sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Poderosa marca da Amizade.

Lembro do último ano da faculdade, que foi muito difícil. No quinto ano de psicologia estávamos todos cansandos com a rotina de visitas clínicas, reuniões, aulas extras. Felizmente faltavam poucas semanas para o fim do ano e o fim do curso. Depois, a formatura com suas festas tradicionais, antes de iniciar o novo clico de vida.

Percebemos, então, que havia um clima estranho entre nós, como se os sentimentos estivessem embaralhados. E estavam. Foi quando um colega, estressadíssimo, entrou na sala de estágio proferindo palavras de desabafo, todas impublicáveis. Outro colega, então, fez um comentário lento e profundo: "Sabe, vou sentir muita falta de seu mau humor, meu caro."
O riso foi geral e o primeiro colega teve que aguentar muita gozação. Mas depois nos detivemos a pensar se seria mesmo possível sentir falta do mau humor de alguém. É claro que não era da cara de azedo que o colega estava portando naquele momento que sentiríamos falta. Era dele. Com todas as qualidades e defeitos que ele e todos nós temos. Seu desabafo naquele momento não era só seu, era de todos nós, pois ele era um de nós. Alguém do grupo, da tribo que tinha passado cinco anos junta, estudando, sonhando, brincando, jogando truco, tomando cerveja.
Seis anos que, quando se tem 20 e poucos, parecem muito mais. Entramos calouros ingênuos, felizes, mas excitados com a expectativa do curso de psicologia que começava. Estávamos saindo psicologos, também ingênuos, também alegres, e também excitados com a expectativa da vida pela frente.

Nesse tempo experimentei o espírito de coleguismo verdadeiro. Eu estava feliz com o fim de curso e com o começo de uma nova vida, mas como faria para viver sem a presença da amizade constante deles? Eles estavam indo embora, todos estávamos. Alguns ficariam na cidade, outros não. A tribo, enfim, estava se espalhando pelo planeta.
Agora era cada um por si.
Não sei onde está a maioria de meus amigos. Não sei se tiveram carreiras brilhantes, se casaram, quantas vidas ajudaram. Talvez alguns já tenham partido definitivamente. Mas, por outro lado, sei, sim, onde eles estão. Em minha memória, e em um canto especial do meu coração. Que bom que eu tenho de quem sentir saudades, de quem lembrar e a quem agradecer por ter feito parte de minha história e por me ajudar a ser quem hoje sou, este conjunto de retalhos da vida que passou... e que segue.