sábado, 16 de abril de 2011

Acima de tudo



PRINCÍPIOS SÃO COMO GOSTOS: cada um tem os seus, frutos da própria história. Ao compará-los, podemos concordar, nos reconhecer, admirá-los - ou nada disso. Independentemente de quais sejam, conhecê-los é um exercício de sobrevivência. A vida não é um filme em que a diferença entre certo e errado é sempre óbvia. Há muitas possibilidades, que, não raro, nos deixam perdidos. Para isso, enfim, servem os valores: ao entendermos sua influência e aceitarmos a responsabilidade de defendê-los, ficamos mais seguros de quem somos e do nosso caminho.
Mas esse (quase) nunca é um aprendizado fácil.
Minha primeira grande lição sobre princípios foi lá pela 5ª série. De repente, os pais dos meus colegas começaram a oferecer prêmios às boas notas dos filhos. Ou nem tão boas assim - se passasse de ano estava bom. (No fim do colégio, valia carro.) A prória escola estimulava a meritocracia material: aos melhores alunos do bimestre, distribuía medalhas douradas e caixas de bombom.
Ganhei muitas dessas. Mas prêmio em casa? Até tentei. Chegava com o boletim coalhado de notas 10, e comentava como quem não quer nada: "Sabe, o fulano vai ganhar uma viagem só porque tirou 8...."
E meus pais respondiam sem piscar: "Não fez nada além da sua obrigação. E fez por você, não por nós."
Às vezes era frustrante. Fui entender depois - e hoje agradeço. Estudar era nosso compromisso, e notas altas, o caminho para chegar à universidade. Se minha dedicação dependesse da recompensa, eu agiria pelo interesse material, não pelo valor da educação. Não era o que eles queriam. Honrar nossos princípios teria de ser minha escolha natural: sem cobranças nem expectativas. Sem questionar nem lamentar. Por mim e por mais ninguém.
Precisei crescer para apreciar essa sabedoria. E entender que a pressão não precisa enfraquecer nossos princípios. Ao contrário: é na oportunidade de reafirmá-los diante dos outros que ficamos mais fortes.