quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Do silêncio

Não sei bem quando aconteceu, mas ficamos viciados em barulho. O silêncio se tornou um insuportável sinônimo de vazio, de falta e estamos sempre esperando por um comentário, uma opinião, qualquer ruído com um pouquinho de significado – ou não – para preencher uma lacuna que nos intimida e nos deixa constrangidos. Será medo de pensarem que não temos nada de produtivo a acrescentar? Receio de acharem que a gente é bobo ou até mesmo meio burro? É que o silêncio pressupõe uma intimidade que para muitos pode parecer assustadora e prescindir das palavras é revelar-se em completa nudez. A gente se sabe confortável e íntimo de alguém quando não tem necessidade de preencher os silêncios e descobre que eles fazem parte da conversa, da amizade, do cortejo. É quando nos damos conta de que a falta de barulhos não é constrangedora, mas confortável e bastante convidativa. Silenciar é dar descanso aos ouvidos e colocar os olhos para trabalhar. Deixar que eles passeiem e tomem conta do assunto, que coloquem a conversa em dia e que, numa fração de segundo, trabalhem o que as cordas vocais não deram conta em horas e horas. Olhos nos olhos, quero ver o que você me diz sem pronunciar uma única sílaba. Aí é que está o grande desafio.
Texto de Augusto Paz.